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Oportunidades e proximidade cultural atraem brasileiros para Angola

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 29 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , ,

Michèlle Canes
da Agência Brasil
28 de dezembro de 2014

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Localizada na região ocidental da África, Angola tem 18 milhões de habitantes, de acordo com a embaixada do país no Brasil. Com a história marcada por uma longa guerra civil, os angolanos conheceram a paz em 2002 e precisaram reconstruir o país.

Apesar das dificuldades, muitos brasileiros veem o país como um lugar acolhedor e que oferece boas oportunidades. Hoje, aproximadamente 30 mil brasileiros vivem no país africano, segundo a Embaixada do Brasil em Luanda, capital angolana. O fator que mais atrai brasileiros é o trabalho.

“Hoje a gente tem pessoas em todas as áreas. Desde cabeleireiros, manicures a engenheiros, pessoal de música. Tudo. Fora a mão de obra mais específica para a construção civil, para a área do petróleo”, conta o fotógrafo Sérgio Guerra, que vive há 17 anos no país.

“Inicialmente foi o trabalho que me atraiu. Aqui, a gente consegue entender a sociedade [angolana], as demandas da população.” Sérgio viajou por todo o país e conheceu pessoas e realidades diferentes durante o período de guerra civil. “E isso foi me aproximando do país, da cultura, das pessoas. Eu, que já vinha da Bahia, com uma referência de África muito forte, só fui confirmando essa estreiteza de afinidades.”

–– “Grande significado e respeito” para o professor em Angola ––
O professor e especialista em marketing [análise de mercados] Cláudio de Holanda Santos também foi a Angola para trabalhar, e acabou se apaixonando pelo país. Em Angola há 12 anos, ele conta que chegou logo depois do fim dos conflitos para trabalhar como coordenador de um projeto de reinserção social de ex-militares por meio de formação profissional. O projeto, que contava com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, ajudou na formação de 38 mil ex-militares.

O resultado do trabalho rendeu novas oportunidades, e o administrador ajudou também a fundar a Escola Nacional de Administração, um trabalho conjunto com o governo local e a Fundação Getúlio Vargas [do Brasil].

Ele lembra que um dos pontos que chamam a atenção, mesmo depois de tanto tempo, é o interesse da população angolana pelo desenvolvimento. “Aqui, uma necessidade deles é aprender. O professor passa a ter um papel com grande significado e respeito. Isso me deixou apaixonado, e é a razão de estar aqui até hoje.”

Cláudio também destaca a aposta do país no investimento em educação. “Eles sabem que não basta ter informação: é importante ter o conhecimento. Muitos estrangeiros estão explorando várias áreas, e o angolano precisava ter condições de tocar o seu país. Por isso, eles estão mandando vários jovens angolanos para toda parte do mundo para aprender.”

–– “Tem muita coisa parecida” ––
A cultura, as belas praias e a alegria do povo são pontos de destaque entre as semelhanças entre o Brasil e Angola. Milena Vieira chegou ao país há sete anos para prestar assessoria na área de saúde.

Hoje, a enfermeira virou empresária. “Eu não tive dificuldade nenhuma de adaptação. Morei na Bahia e no Rio de Janeiro, e vejo que aqui, na capital, tem muita coisa parecida. Quando eu estou no Rio de Janeiro, até brinco dizendo que parece que estou em Luanda. Tem muita coisa parecida.”

Por ser um país em reconstrução, as oportunidades surgem a todo o momento. “Eu via que faltava tudo no país. Tinha muita coisa a ser trabalhada. E me chamou a atenção uma vez que eu precisei fazer um carimbo, e o custo era muito alto”, conta Milena. A necessidade virou negócio. Hoje ela vende carimbos e chaves.

–– Cidades inteiras a ser construídas do zero ––
Cláudio destaca que, com o acordo de paz de 2002, o país passou a ter que construir tudo que havia sido destruído pela guerra. “Estão começando as indústrias agora. Estão começando os serviços agora. Tudo está começando.”

A área de construção é uma das que mais chamam a atenção. Sérgio diz que o nível de crescimento do país é grande e que, nos últimos sete anos, novas cidades foram construídas do zero. “São cidades inteiras com edifícios e estrutura urbana, todas feitas nos últimos oito anos, sete anos. São essas possibilidades que dão oportunidades aos brasileiros e às empresas brasileiras.”

–– Angola ainda tem muito a crescer ––
Apesar das oportunidades, as dificuldades ainda são muitas. Brasileiros que vivem no país ressaltam que é possível perceber a melhora na estrutura de Angola, mas que ainda há muito a ser feito. “Problemas básicos. Ninguém consegue se livrar dos geradores, dos problemas com água. Ainda temos muitos problemas com abastecimento”, afirma Sérgio Guerra.

Custo de vida alto, falta de lazer, engarrafamentos e problemas sociais decorrentes da guerra também são constantes na vida dos angolanos. Para os brasileiros, o país ainda tem muito a crescer.

“Viemos com um objetivo: é trabalho mesmo. Ninguém vem para cá desfrutar das belezas naturais, infelizmente, ainda. E acredito que essas coisas devem mudar. Mudou muito. Cinco anos atrás, não tínhamos nada, e mudou bastante. A tendência é que fique melhor com o passar dos anos”, diz Milena.

“Hoje é um país muito diferente daquele que eu conheci. É um país que tem estabilidade econômica, a inflação está controlada, o país tem comprometimento com a institucionalidade, o que abre muitas possibilidades de trabalho e de relações internacionais”, enfatiza Guerra.  :::

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CANES, Michèlle. Oportunidades e proximidade cultural atraem brasileiros para Angola.
Extraído da Agência Brasil.
Publicado em: 28 dez. 2014.

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Língua comum e trabalho fazem angolanos virem para o Brasil

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 28 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , ,

Isabela Vieira
da Agência Brasil
26 de dezembro de 2014

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Rio de Janeiro — Bilongo Lando Domingos, 32 anos, é cabeleireiro e há 13 anos mora no Rio de Janeiro. Angelina Sissa João, 26 anos, é estudante e desembarcou há dois anos na cidade para estudar marketing [análise de mercados]. Cabingano Manuel é jornalista, com especialização em administração, e chegou há quatro anos para trabalhar como correspondente de uma emissora de TV. Todos são angolanos e escolheram o Brasil em busca de melhores condições de vida e de oportunidades profissionais.

De acordo com o Ministério da Justiça brasileiro, vivem no Brasil cerca de 12,5 mil angolanos, sendo 3,7 mil residentes. Boa parte chegou ao Rio e a São Paulo durante a guerra civil naquele país, entre 1990 e o início de 2000, quando o Brasil concedia refúgio àqueles que deixavam o país. É o caso de Bilongo, que saiu de Luanda, capital de Angola, para não ser recrutado.

“Eu queria muito sair. O país estava em guerra, e nós, jovens, naquela época com 16 e 17 anos, com porte físico, éramos alvo, no sentido de que as Forças Armadas do país precisavam de jovens para poder lutar, e eu não queria isso. Aquela guerra não valia a pena”, contou Bilongo, que hoje é cabeleireiro especializado em cortes masculinos estilizados, no centro da capital fluminense.

Ele escolheu o Brasil pela Língua e pela proximidade cultural. “Os brasileiros têm muito respeito por nós, se identificam com a música, as cores, o jeito de ser”, lista.

Angelina Sissa veio em busca de qualificação profissional. Incentivada por parentes que estudaram no Rio e voltaram para Angola, ela se matriculou em marketing. “O Brasil tem mais experiência nessa área.” Há dois anos ela estuda em uma universidade particular e mora na Tijuca, na Zona Norte [da Cidade do Rio de Janeiro]. Para Angelina, a escolha pelo Brasil também se deve à proximidade cultural.

“O ambiente aqui é próximo ao de Angola: a maneira de ser [dos brasileiros] não foge muito [do que é em Angola]. São pessoas abertas, que gostam de conversar, simpáticas”, destacou.

Cabingano Manuel chegou para fazer mestrado em comunicação e cursar pós-graduação em administração. De correspondente internacional no continente americano, ele foi alçado a representante da Televisão Pública de Angola (TPA). Jornalista, revelou que conheceu o Brasil dando palestras na Bahia e há quatro anos resolveu vir para morar com a família. “Minha decisão de vir foi primeiramente acadêmica, só depois disso vieram as outras coisas [o trabalho]”, disse.

Manuel também assegura que as semelhanças entre a cultura brasileira e a angolana foram determinantes em sua decisão. “É muito mais prático reencontrar-me, adaptar-me ao Brasil do que a Portugal ou a outro país: as ruas, as pessoas, os hábitos e costumes são muito parecidos aos de Angola e, particularmente, aos de Luanda”, revelou. Entre seus programas favoritos de fim de semana, estão caminhar na Praia de Copacabana e visitar pontos turísticos.

–– “O acolhimento pelo Brasil deu certo” ––
A facilidade de se comunicar – os dois países têm a Língua Portuguesa como idioma oficial – ajudou a atrair os imigrantes, diz Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) –(*)–. Por causa da guerra, o Brasil chegou a receber cerca de 1,7 mil angolanos e, durante muitos anos, eles foram o maior grupo de refugiados no país.

“Essa população [de refugiados no Brasil] foi diminuindo. Hoje, os angolanos são o terceiro maior grupo, entre os cerca de 7,2 mil refugiados, de 80 nacionalidades. A maioria é formada de pessoas vindas da Síria [1,2 mil] e da Colômbia [1 mil]”, informou Godinho. O número de angolanos com refúgio – que atualmente está em 873 – tende a cair mais, uma vez que eles têm trocado essa condição pela residência.

O porta-voz da ACNUR conta que, com o fim da concessão de refúgio, o Brasil fez um programa de repatriação para permitir a volta dos refugiados ao país africano, mas que nenhum angolano se inscreveu. “É um sinal de que o Brasil cumpriu bem seu papel de receber, de fornecer meios para reconstruir a vida e se integrar”, avaliou. “O acolhimento pelo país deu certo.”  :::

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–– Nota: ––
–(*)–  O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) é o órgão das Nações Unidas encarregado de garantir proteção e segurança a refugiados e expatriados de todo o mundo. A sede do órgão localiza-se em Genebra, Suíça, e é presidido pelo antigo primeiro-ministro da República Portuguesa, António Guterres.

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VIEIRA, Isabela. Facilidade com Língua e vagas de trabalho fazem angolanos virem para o Brasil.
Extraído da Agência Brasil.
Publicado em: 26 dez. 2014.

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Universidade brasileira que integra povos de Língua Portuguesa forma sua primeira turma

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 26 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , ,

Da Rede Brasil Atual e da Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab)
18 de dezembro de 2014

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Em 12 de dezembro de 2014, a Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), formou 57 estudantes da turma “Luís Inácio Lula da Silva” de seu curso de Bacharelado em Humanidades.

A solenidade, realizada no Campus das Auroras, entre os municípios de Redenção e Acarape, no Ceará (nordeste do Brasil), é repleta de significado: é a primeira formatura da primeira universidade brasileira que em entre suas diretrizes estabelecer, na educação superior, um link [vínculo] entre o Brasil e os países de Língua Portuguesa: em especial os africanos. Sem contar a cooperação internacional Sul-Sul, de maneira colaborativa, solidária, para a formação de quadros e a produção de conhecimento por meio do intercâmbio acadêmico entre estudantes e professores.

“Hoje estou esperando o melhor. Suspiro de alívio, de tranquilidade, de ter conseguido a primeira etapa, que era fazer o bacharelado. Mas não posso falar disso sem falar da minha família, da minha origem, a gente tem que falar de onde vem. Eu venho de Cabo Verde, de uma família humilde, que não tem tradição de escolaridade. Basicamente sou o primeiro a ter um curso, e isso é motivo de orgulho para mim mesmo e minha família”, afirmou o estudante Carlos Santos, de 26 anos.

–– Lula da Silva em carta: “Aposta na integração com a África” ––
Homenageado como patrono externo da turma e emprestando o nome a ela, o ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva não pôde acompanhar a cerimônia, contudo, enviou carta de saudação à reitora da Unilab e aos formandos, que foi lida na solenidade.

“A Unilab nasceu de um sonho e se transformou numa extraordinária realidade”, afirma o ex-presidente, dizendo que a instituição expressa a iniciativa do Brasil de apostar na integração com a África. “Apostar, confiar e acreditar na centralidade estratégica que tem para o Brasil a integração econômica, social, cultural e educacional com os países africanos, particularmente com aqueles que compartilhamos a mesma Língua e uma mesma história de lutas.”

–– Conclusão de graduação: uma ruptura emancipatória ––
Em sua mensagem aos formandos, a reitora Nilma Lino Gomes falou da origem humilde. “Muitos dos nossos bacharéis aqui formados representam a primeira geração a cursar o ensino superior na sua família. E para nós que viemos de famílias pobres, com trajetórias de luta por direitos e por inserção social, a conclusão de uma graduação significa muito”, disse.

De acordo com a reitora, a formatura representa a conquista de um direito. “Para as famílias pobres do Brasil, continente africano e Timor-Leste – e eu venho de uma família com estas características –, cursar o ensino superior não é simplesmente a ordem natural das coisas, o caminho posterior ao Ensino Médio. Significa a ruptura com uma história de desigualdade e exclusão. Significa a nossa presença em um espaço e tempo que não foi pensado para os pobres e coletivos sociais diversos, mas, sim, para as elites”, frisou.

A reitora destacou ainda o desafio do projeto da Unilab. Citando o português Boaventura de Sousa Santos – professor de Economia da Universidade de Coimbra –, disse que o projeto acadêmico da Unilab é emancipatório, que busca “formar sujeitos e mentes inconformistas e rebeldes diante da injustiça, das desigualdades, do racismo e de toda forma de discriminação”.

Entre os integrantes da mesa de cerimônia, estavam o vice-reitor, Fernando Afonso Ferreira, o secretário de Educação Superior, do Ministério da Educação do Brasil, Paulo Speller, e a secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do mesmo ministério, Macaé Maria dos Santos.

Também assistiram à cerimônia delegações da Universidade Lúrio, de Nampula, e da Universidade Pedagógica, de Maputo, ambas de Moçambique; da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), de Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil; e da Universidade Católica de Pernambuco.  :::

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–– Extraído da Rede Brasil Atual e da Universidade Federal da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) ––

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Influência de uma língua mede-se pela capacidade de ligar línguas distantes

In Defesa da Língua Portuguesa,Lusofonia e Diversidade on 25 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , , , ,

Ana Gerschenfeld,
do jornal Público (Lisboa, Portugal)
22 de dezembro de 2014

:::  Nem o número de falantes, nem a riqueza económica são o que mais condiciona a influência de uma dada língua a nível global: conclui estudo com participação portuguesa.  :::

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Está a pensar em aprender chinês (ou melhor, mandarim) ou a aconselhar os seus filhos a optarem por essa segunda língua estrangeira? É certo que, quando olhamos para o astronómico número de pessoas que fala hoje chinês – e para o crescente poderio económico da China –, temos tendência para pensar que, a par (ou talvez em vez) do inglês, o chinês é que será a língua do futuro.

Porém, a acreditar nas conclusões de um estudo realizado por uma equipa internacional, entre os quais um cientista português, essa escolha poderá não ser a mais acertada… A língua franca do futuro poderá ser outra – e as mais importantes no ranking [classificação] mundial também poderão ser outras.

Os resultados, publicados na última edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), mostram que, ao contrário do que se poderia pensar, influência global de uma língua mede-se principalmente pelo seu nível de ligação com outras línguas. E em particular, pela sua capacidade de mediar a comunicação entre línguas que de outra forma não conseguiriam “falar” entre si.

A questão reside em saber, no fundo, como avaliar a influência de uma língua na cultura global. Ora, até aqui, os parâmetros utilizados têm sido, justamente, o número de pessoas que falam uma dada língua e o nível económico dessas pessoas.

Mas agora, estes cientistas decidiram avaliar esse poderio linguístico com outra bitola: mapeando as redes de ligações entre as diferentes línguas do mundo. E concluem que, muito mais do que ao peso da demografia ou da riqueza – que obviamente também contribuem para o poderio das diversas línguas –, o sucesso global de uma língua deve-se sobretudo ao número e à força dessas ligações.

Mais: o que define a influência global de uma língua, argumentam os autores, é a sua capacidade de estabelecer pontes entre línguas associadas a culturas por vezes muito diferentes e afastadas do ponto de vista geográfico.

“O chinês – ou mandarim para ser mais preciso –, apesar de ter um grande número de falantes, é uma língua relativamente periférica, ou seja é uma língua que está isolada sobre si mesma e não interage com as restantes”, explicou ao Público Bruno Gonçalves, coautor português do artigo, a trabalhar na Universidade de Aix-Marseille (França).

“Ou seja, o chinês é útil na China, mas está longe de ser uma língua falada frequentemente noutros países ou regiões. Isto deve-se tanto à sua complexidade – que dificulta a aprendizagem – quanto ao tamanho da China – que facilita o isolamento cultural, visto poderem ser autossuficientes.”

–– Twitter, Wikipédia & Companhia ––
Para determinar as ligações existentes entre as línguas e avaliar a sua força, os cientistas – liderados por César Hidalgo e incluindo Steven Pinker – ambos do célebre Media Lab do Massachusetts Institute of Technology [o Instituto de Tecnologia de Massachusetts] ou MIT, EUA) – construíram três mapas diferentes a partir de três grandes massas de dados, respectivamente provenientes do Twitter, da Wikipédia e de traduções literárias.

No caso do Twitter – explica em comunicado o MIT –, o critério de ligação entre duas línguas era que o autor de um tweet [as micropostagens do Twitter] na sua própria língua (a primeira) também tivesse produzido pelo menos três tweets na segunda língua. Os dados representavam assim 17 milhões de tweets produzidos em 73 línguas por cerca de 280 milhões de utilizadores deste serviço online [em linha].

Quanto à força da ligação entre duas línguas, era medida pelo número de utilizadores desse “par” de línguas. Essencialmente, “a força de ligação entre as diversas línguas é dada pelo número de pessoas bilingues”, diz-nos Bruno Gonçalves.

No caso da Wikipédia, o critério era semelhante: os “editores” daquela megaciberenciclopédia eram retidos para análise quando tinham editado artigos na sua língua-mãe e noutras línguas. O conjunto final continha 2,2 milhões de tais editores.

–– A lista de traduções literárias da UNESCO ––
Por último, para gerar os dados de base relativos à tradução literária, os cientistas utilizaram o chamado Index Translationum da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura] – um catálogo de 2,2 milhões de traduções de livros em mais de mil línguas, publicadas entre 1979 e 2011. Aqui, a força da ligação entre duas línguas era determinada pelo número de traduções que existiam de uma para a outra.

Para obter as redes, os cientistas utilizaram, lê-se no artigo da PNAS, um algoritmo semelhante ao que o motor de pesquisa da Google utiliza para fazer o ranking das páginas da Web nas suas listagens de resultados de pesquisa. Esse algoritmo utiliza o número e a qualidade dos links [enlaces ou hiperligações] que apontam para um dado site [sítio de Internet] como estimativa da importância desse site.

–– Duas listas de personalidades e de suas publicações ––
Por outro lado, para validar os seus mapas de forma independente, os cientistas recorreram a mais dois conjuntos de dados que ligam pessoas famosas e difusão linguística: uma lista (obtida anteriormente por César Hidalgo) de 11.340 pessoas que tinham artigos acerca delas na Wikipédia escritos em mais de 26 línguas; e uma outra lista, publicada num livro da autoria do politólogo norte-americano Charles Murray, das 4.002 pessoas mais citadas em 167 obras de referência (de enciclopédias a inquéritos) publicadas à escala mundial.

Resultados? Os três mapas das redes linguísticas não eram idênticas – o que era de esperar, uma vez que o grupo de “autores” utilizado para cada um dos mapeamentos era diferente: no caso do Twitter, representava uma parcela dos internautas bilingues; no caso da Wikipédia, uma mistura de curiosos e especialistas (poliglotas) de um tema; e, no caso da base de dados da UNESCO, obras literárias de fama internacional.

“Por exemplo”, lê-se no mesmo comunicado, “na rede da Wikipédia, o alemão é muito mais central do que o espanhol, enquanto o contrário se verifica na rede gerada a partir do Twitter.”

Da mesma forma – e pela mesma razão –, a rede derivada dos dados da UNESCO estava mais em linha com a lista de famosos de Murray, cujos elementos proveem das artes e das ciências. Pelo seu lado, as redes derivadas do Twitter e da Wikipédia correspondiam melhor à lista de famosos estabelecida pelo coautor César Hidalgo com base na Wikipédia, que é mais inclusiva, uma vez que contém famosos das mais variadas profissões, da música pop ao desporto.

Mas mesmo assim, fosse qual fosse a lista de celebridades considerada, havia sempre pelo menos um dos mapas que conseguia prever de forma mais fiável a composição dessa lista com base na “centralidade” da língua na rede correspondente do que no PIB [Produto Interno Bruto] ou no número de falantes associados.

–– Línguas do futuro? ––
Uma coisa é certa: no topo da influência global está atualmente o inglês. Com 1500 milhões de falantes e um elevado rendimento per capita, os novos resultados também confirmam esta língua como a mais capaz de ligar outras línguas entre si – o que aliás já todos sabíamos.

Quanto ao chinês (com mais de 1.600 milhões de falantes) ou o árabe (500 milhões de falantes), apesar de estas línguas serem mais faladas do que línguas como o português (290 milhões), o francês (200 milhões), o alemão (185 milhões), ou o italiano (70 milhões), ambas surgem nos resultados como mais periféricas, menos centrais do que este conjunto de línguas europeias.

De facto, a seguir ao inglês, as línguas mais centrais a nível global são o francês, o alemão, o espanhol, o italiano e o russo (nessa ordem, com os três últimos no mesmo patamar). E, no “círculo” seguinte, encontram-se, entre outras, o holandês (com apenas 27 milhões de falantes), o português, o sueco (com dez milhões) e o dinamarquês (com seis milhões).

“O português é uma Língua intermédia”, explica ainda Bruno Gonçalves. “Porque, apesar de estar difundida pelo mundo e ter ligações a línguas mais distantes, tanto geográfica como linguisticamente, não tem a importância global de uma língua como o inglês tem atualmente ou como o francês teve em décadas passadas.”

“Para mim, o resultado mais surpreendente em relação ao português foi a sua ligação à língua malaia e ao finlandês, que são visíveis nas redes derivadas do Twitter e da Wikipédia”, acrescenta Bruno Gonçalves.

–– “Cultura e língua estão ligadas” ––
Seja como for, todas estas línguas medianamente periféricas – e muito menos faladas do que o chinês ou o árabe – revelam-se, nos três mapas, mais centrais do que o chinês ou o árabe (os diversos mapas estão acessíveis no site do projeto).

E em particular, no mapa derivado do Twitter, o português e o espanhol são as línguas indo-europeias mais centrais a seguir ao inglês – enquanto as línguas “sino-tibetanas” como o chinês se tornam praticamente irrelevantes.

Poder-se-á objetar que estes dados estão enviesados, dado que consideram populações não representativas da totalidade da população humana – e que portanto não representam a influência real de cada língua. A isso, César Hidalgo responde no mesmo comunicado: “Quero dizer claramente que este estudo não é sobre línguas globais. As três redes são representativas de elites. Mas, ao mesmo tempo, essas elites são os motores da transferência de informação entre culturas.”

“O que estes resultados demonstram é que a cultura e a língua estão intrinsecamente ligadas, e que promover uma é promover a outra”, frisa Bruno Gonçalves.

–– Quanto ao português? E haverá uma nova Língua franca? ––
Como preservar o português? “Através de medidas que aumentem o número de estrangeiros que falam a nossa Língua – promoção de aulas de português para estrangeiros, etc. – ou que difundam a cultura portuguesa, como a tradução de livros de autores nacionais para outras línguas”, responde-nos o cientista.

E qual será a língua franca do futuro?, perguntámos. “Será provavelmente uma mistura de línguas. O inglês manterá o seu domínio, mas acho que não corremos o risco de ter uma única língua global que elimine as outras.”  :::

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GERSCHENFELD, Ana. Influência de uma língua mede-se pela capacidade de ligar línguas distantes.
Extraído do jornal Público – Lisboa, Portugal.
Publicado em: 22 dez. 2014.

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Lusófona e chinesa, Macau após 15 anos da transferência à China

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 24 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , ,

Da Agência Lusa e da Rádio China Internacional

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Quando a China assumiu o governo de Macau, “havia algumas incertezas quanto ao futuro, mas o desenvolvimento desta Região Administrativa Especial ultrapassou em muito o que as pessoas imaginavam”, disse recentemente um jornalista em transmissão da Televisão Central da China (CCTV), em uma reportagem em direto de Macau.

Desde o “regresso de Macau à Pátria”, como se diz na China, a região teve impressionante desenvolvimento económico, a ponto de o território tornar-se a “capital mundial do jogo”, à frente de Las Vegas. Há 15 anos, “o Lisboa era o melhor e o maior casino de Macau; hoje é o mais pequeno”, salientou o jornal de língua inglesa China Daily.

O legado dos cinco séculos de presença portuguesa é visto em sua herança arquitetónica, como o Farol da Guia, o mais antigo de toda a China, e o Centro Histórico de Macau, com as ruínas da Catedral de São Paulo e o Largo do Senado, classificado como Património Mundial pela UNESCO em 2005.

“Com as suas ruas antigas, áreas residenciais, construções religiosas, arquitetura portuguesa e chinesa, o Centro Histórico de Macau constitui um testemunho único do encontro entre o Oriente e o Ocidente”, assinala o Diário do Povo, o jornal oficial do Partido Comunista da China.

O passado português convive com as marcas da modernidade pós-transferência: Macau conta com a Torre Panorâmica e com uma rede de 20 quilómetros do Metro Ligeiro, da Península de Macau até Cotai. E em 2016, terá uma gigantesca ponte de 50 quilómetros de extensão sobre a Riviera das Pérolas a ligar Macau, Hong Kong e Zhuhai (na região de Cantão).

“O espírito de ‘Amar Macau, Amar a China’ tem sido a chave do rápido desenvolvimento de Macau nos últimos quinze anos”, proclamou o Diário do Povo.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, concorda: “Nos últimos quinze anos, Macau desenvolveu boas relações com os países de Língua Portuguesa e desempenhou um papel positivo na ligação da China aos países de Língua Portuguesa”, disse ele à Agência Lusa.

“China e Portugal lidaram corretamente com o regresso de Macau [à administração chinesa], através de consultas e negociações em pé de igualdade”, disse ele. Afirmou ainda que a transferência de poderes no território constitui “um marco memorável na História” das relações luso-chinesas.

–– “Um país, dois sistemas” ––
Macau (Ao Men, em chinês) foi integrado na Republica Popular da China no dia 20 de dezembro de 1999, segundo a mesma formula adotada dois anos antes no antigo território britânico de Hong Kong: “um país, dois sistemas”.

Segundo essa fórmula “um país, dois sistemas”, exceto nas áreas de defesa nacional e relações externas, a cargo do Governo central em Pequim, Macau goza de “um alto grau de autonomia”, “é governado por pessoas de Macau”. E o português mantém-se como Língua oficial, a par do chinês.

Desde a transferência da soberania à China, ocorrida em dezembro em 1999, o PIB (Produto Interno Bruto) per capita de Macau passou de 12,3 mil para 71,2 mil euros, sendo hoje “o segundo mais elevado da Ásia e o quarto do mundo”, realçam os responsáveis chineses.

O rendimento mensal médio em Macau triplicou, para 15 mil patacas (1.500 euros) – cerca de o dobro de Pequim – e o desemprego baixou para 1,6%, referiu um órgão da imprensa chinesa.

Na China, o PIB per capita ronda os 5,7 mil euros e mesmo em Pequim, uma das cidades do país com melhor nível de vida, o salário médio não chega a 6.000 iuanes (800 euros).

“Gosto muito da cidade. Macau é um local especial. Gosto da mistura cultural e arquitetônica”, disse José Matias, nascido em Portugal e que vive na cidade do sul da China. “Gosto da cultura, da comida e dos costumes chineses. Gosto da presença portuguesa e lusófona. Gosto de Macau também pelos bons amigos que fiz aqui.”

E não só fez amigos como casou-se com uma chinesa local e tem dois filhos. “Macau é a minha casa. A segunda casa que se tornou primeira.”, disse Matias, ao repetir o verbo “gostar”, expressando sua paixão por Macau, chinesa e lusófona.  :::

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–– Extraído da Agência Lusa e da Rádio China Internacional ––

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Exposição sobre Agustina Bessa-Luís no Museu da Língua Portuguesa de São Paulo

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 17 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , ,

Do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua
16 de dezembro de 2014

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O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, acolhe, de 16 de dezembro de 2014 a 1 de março de 2015, a exposição Agustina Bessa-Luís, Vida e Obra, concebida pela escritora Inês Pedrosa e pelo realizador de cinema João Botelho.

Para o diretor do Museu, Antonio Carlos de Moraes Sartini, esta é “uma bela oportunidade de aproximar os brasileiros das obras desta importante autora de nosso idioma, mas que ainda não é muito conhecida e lida no Brasil”. “Com a realização desta mostra, o Museu segue cumprindo seu papel de valorização da Língua Portuguesa e da nossa melhor expressão literária”, afirma o mesmo responsável.

A mostra, que permanecerá em exibição no saguão do terceiro andar do Museu da Língua Portuguesa até dia 1 de março de 2015, é uma iniciativa do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, e a sua exibição é fruto de uma parceria com o Consulado Geral da República Portuguesa em São Paulo.

Por meio dos 20 painéis ilustrados com textos e fotografias, a exposição no Museu – situado no prédio da Estação da Luz, no Centro de São Paulo – apresenta ao público a trajetória da grande escritora.

–– Agustina Bessa-Luís, uma “neorromancista” ––
Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa nasceu no dia 15 de outubro de 1922 em Vila Meã, na cidade de Amarante (Distrito do Porto, norte de Portugal) e tornou-se uma escritora mundialmente conhecida sob o pseudónimo literário de Agustina Bessa-Luís.

Chegou ao Porto para estudos em 1935 e fez breve passagem por Coimbra nos anos 1940, onde viveu até ao lançamento do livro de estreia como romancista, a novela Mundo Fechado em 1948.

Em 1950, Agustina voltou ao Porto onde reside até hoje. O sucesso e o reconhecimento vieram em 1954, com o lançamento do romance A Sibila, que já apresenta toda a maturidade do seu original processo criativo.

Situada pelos críticos como “neorromancista”, Agustina transborda um enorme interesse pelo romancista Camilo Castelo Branco (1825-1890).

Graças ao conjunto de sua obra foi agraciada com inúmeros prémios, entre eles a Medalha de Honra da Cidade do Porto e a Ordem das Artes e das Letras da República Francesa no Grau de Oficial. Em 2004, aos 81 anos, recebeu o Prémio Camões, o mais importante galardão literário da Língua Portuguesa.

Autora de várias dezenas de obras, entre romances, contos, peças teatrais, livros infantis e crónicas, a escritora ainda dedicou o seu tempo a outras atividades, tendo sido diretora de 1990 a 1993 do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa.

As obras de Agustina foram traduzidas para o alemão, espanhol, francês, grego, dinamarquês, italiano e romeno. Alguns romances serviram também de inspiração para vários filmes, principalmente do cineasta português Manoel de Oliveira. Entre eles, os filmes Vale Abraão, de 1993, a partir do romance de mesmo nome (publicado em 1991), e o filme O Convento, de 1995, a partir do romance As Terras do Risco (1994).

Agustina Bessa-Luís afastou-se da produção literária por questões de saúde, em 2006, com o lançamento de seu romance A Ronda da Noite.

A romancista faz parte de importantes instituições como a Academia de Ciências de Lisboa e a Academia Europeia de Ciências, das Artes e das Letras, bem como é membro correspondente da Academia Brasileira de Letras.  :::

• Museu da Língua Portuguesa – São Paulo – Brasil:
<http://www.museudalinguaportuguesa.org.br/>

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–– Extraído do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Portugal) ––

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Brasil pode perder 30% de suas línguas indígenas nos próximos 15 anos

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 16 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , ,

Vítor Abdala, da Agência Brasil
11 de dezembro de 2014

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O Brasil corre o risco de perder, no prazo de 15 anos, um terço de suas línguas indígenas, estima o diretor do Museu do Índio, José Carlos Levinho. Atualmente, os índios brasileiros falam entre 150 e 200 línguas e devem ser extintas, até 2030, de 45 a 60 idiomas.

“Um número expressivo de povos, inclusive na Amazônia, tem cinco ou seis falantes apenas. Nós temos 30% [das línguas] dos cerca de 200 povos brasileiros com um risco de desaparecer nos próximos dez ou quinze anos, porque você tem poucos indivíduos em condições de falar aquela língua”, alerta Levinho.

Segundo ele, desde que o Museu do Índio iniciou um trabalho de documentação de línguas dos povos originais, chamado de Prodoclin, em 2009, os pesquisadores do projeto viram dois idiomas serem extintos, o Apiaká e o Umutina.

“Tem também a situação de [línguas faladas por] grupos numerosos, em que você tem um número expressivo de pessoas acima de 40 anos falando o idioma, mas que, ao mesmo tempo, tem um conjunto de jovens que não falam mais a língua e não estão interessados em mantê-la. Então, você não tem condições de reprodução e manutenção dessa língua. A situação é um tanto quanto dramática. Esse é um patrimônio que pertence não só à comunidade brasileira como ao mundo”, destaca Levinho.

–– Uma perda cultural irreparável ––
É uma perda irreparável tanto para as culturas indígenas quanto para o patrimônio linguístico-cultural mundial. Especialistas e indígenas ouvidos pela Agência Brasil afirmam que esses idiomas, que levaram séculos para se desenvolver, são fundamentais para a manutenção de outras manifestações culturais, como cantos e mitos.

Além disso, as línguas são sistemas complexos que, uma vez estudados e compreendidos, podem contribuir para uma melhor compreensão da própria linguagem humana. Indígenas ouvidos pela reportagem também consideram seu idioma materno um instrumento de autoafirmação da sua identidade e da sua cultura.

Quem também acredita que essa extinção possa ocorrer nos próximos anos é o linguista Wilmar da Rocha D’Angelis, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenador do grupo de pesquisas Indiomas, especializado em línguas nativas do território brasileiro. Sua estimativa é que pelo menos 40 línguas sejam perdidas no prazo de 40 anos.

“Nenhum linguista gosta de fazer esse tipo de vaticínio, até porque nosso papel costuma ser o de contribuir para que tais línguas minoritárias se fortaleçam e desenvolvam estratégias de sobrevivência”, destaca D’Angelis. “Eu arriscaria dizer que devem se extinguir, nos próximos 40 anos, a média de uma língua por ano”, completa.

–– Número de línguas indígenas varia no Brasil ––
O número de idiomas falados por indígenas brasileiros varia de uma fonte para outra, já que a definição de fronteiras entre as línguas é um exercício subjetivo, que depende de fatores como critérios gramaticais, linguísticos e até políticos. D’Angelis estima que existam no Brasil entre 150 e 160 idiomas.

No site [sítio da Internet] do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da Universidade de Brasília (UnB), há uma lista com 199 idiomas.

O portal Ethnologue.com, que funciona como um banco de dados das línguas faladas hoje no mundo, lista cerca de 170 línguas indígenas com falantes vivos no Brasil. Entre esses idiomas, 37 são considerados “quase extintos”, ou seja, os falantes são idosos e têm pouquíssima oportunidade de usar o idioma. Há ainda 23 línguas consideradas “moribundas”, ou seja, que são faladas apenas pela faixa etária mais velha da população, mas ainda são usadas no cotidiano por essas pessoas.

Excluindo-se essas 60 línguas, sobram cerca de 110 que ainda são usadas pelas parcelas mais jovens da população. Mesmo assim, é preciso considerar que muitas delas têm poucos falantes. D’Angelis diz, por exemplo, que 100 línguas brasileiras têm menos de mil falantes.

O pesquisador lembra que cerca de mil idiomas indígenas brasileiros foram extintos nos últimos 500 anos. “Na esmagadora maioria dos casos, a extinção se deu junto com a extinção da própria comunidade de falantes, isto é, os próprios índios”, afirma o pesquisador.

–– A perda da língua é a perda de uma cultura ––
Segundo ele, hoje o maior risco para a existência desses idiomas não está mais no extermínio da população indígena.

“Ainda que se conserve, em áreas como Mato Grosso do Sul, Rondônia e algumas outras partes da Amazônia, uma situação de violência institucionalizada que ainda tem essa marca genocida, a destruição das línguas minoritárias, no Brasil atual, não depende do extermínio dos falantes. Os processos de escolarização, a exploração da mão de obra indígena e diversos programas sociais, incluindo aqueles que favorecem a entrada da televisão em todas as aldeias, vêm causando impacto considerável.”

Para o diretor da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, no Amazonas, Isaías Pereira, quando um índio deixa de falar sua própria língua, perde-se também uma parte importante de sua cultura. “Com o descobrimento do Brasil [em 1500, durante as Grandes Navegações portuguesas] e a colonização, desde aquela época, começamos a perder nossa cultura. A gente tem que ficar lutando para manter nossa própria cultura, nossa própria fala.”

Já o pesquisador Glauber Romling da Silva, que participa do projeto de documentação do Museu do Índio, compara a perda de uma língua à extinção de uma espécie.

“Quando se preserva uma língua, se está preservando os costumes e tudo que vem junto com isso. Muitas vezes o perigo de extinção não é só na língua em si. Às vezes, a língua até mostra uma vitalidade, mas seus estilos formais, cantos, a parte cultural em que ela está envolvida somem muito rápido. De uma geração para outra, isso pode sumir”, diz.

–– As dificuldades da educação indígena brasileira ––
Romling lembra que a Constituição garante uma educação diferenciada aos indígenas, com escolas próprias, que ensinem o idioma nativo.

No entanto, segundo ele, há uma série de dificuldades que comprometem o ensino do idioma e até a qualidade da escola como um todo, como a falta de professores treinados e de material didático, além de problemas estruturais na própria unidade de ensino. Diante disso, muitos jovens passam a frequentar escolas urbanas.

O diretor do Museu do Índio, José Carlos Levinho, acredita que, da forma como são estruturadas hoje, as escolas nas aldeias não contribuem para a preservação da cultura e da língua desses povos.

“A educação é um processo de socialização, e quando ela é mal fundamentada, cria mais problemas do que soluções. Você encontra aberrações desde a maneira como as escolas são construídas até sua lógica de funcionamento. A estrutura não tem a flexibilidade necessária para dar conta daquela realidade. O grande problema na relação com os índios é não considerar as particularidades”, diz.

Segundo ele, é preciso que os governos dialoguem com os indígenas e levem em consideração a singularidade de cada povo. “É preciso enxergar o outro de verdade, respeitar o outro do jeito que ele é. E criar as condições para que se possa atendê-lo.”

–– O projeto Saberes Indígenas na Escola ––
A secretária nacional de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão [do Ministério da Educação do Brasil], Macaé Evaristo, diz que o governo [brasileiro] tem buscado investir na formação de professores indígenas por meio do projeto Saberes Indígenas na Escola, para garantir que o idioma nativo seja passado para as crianças nas escolas.

“Nós organizamos redes com as universidades para atender à diversidade de línguas indígenas. Hoje no projeto Saberes Indígenas estamos trabalhando na formação de professores em 77 línguas indígenas”, explica. “Mas é uma longa caminhada. É uma agenda complexa.”

Segundo ela, o Ministério da Educação também tem investido na pesquisa e documentação de línguas indígenas, na preparação de materiais didáticos e na construção de escolas indígenas.

“Nós partimos do pressuposto da garantia da educação a crianças, adolescentes, jovens e adultos, independente de sua etnia em qualquer lugar do país. Nossa orientação aos sistemas de ensino é que se escute as populações no desenvolvimento do planejamento da oferta educativa. Que [os sistemas] garantam que aquelas populações que têm uma língua própria tenham acesso ao ensino em sua língua materna e acesso ao Português como Segunda Língua”, diz a secretária.  :::

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ABDALA, Vítor. Brasil pode perder 30% de suas línguas indígenas nos próximos 15 anos.
Extraído da Agência Brasil.
Publicado em: 11 dez. 2014.

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A diversidade nas palavras e sotaques de uma Língua cada vez mais integrada

In Língua Portuguesa Internacional,Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 13 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , , , , ,

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A Língua Portuguesa é dos poucos idiomas que têm caráter internacional e uso oficial nos cinco continentes. Abrange vasta área geográfica ao redor do mundo e convive com as mais diversas realidades culturais.

Desde o período das Grandes Navegações portuguesas dos séculos XV e XVI, a Língua Portuguesa foi levada para os locais mais remotos do mundo e serviu como canal de comunicação entre culturas distintas. O resultado disso é o facto de ser enriquecida com grande vocabulário e sotaques diversos que dão características locais à Língua em cada região onde é falada.

E, por conseguinte, a “Língua filha ilustre do Latim” fortalece a sua identidade transcultural, como uma Língua de expressão mundial. Mas, ainda assim, é importante que iniciativas sejam dadas para a sua expansão, como o Acordo Ortográfico de 1990 que uniformiza as regras de escrita da Língua Portuguesa em todo o mundo.

A implantação do Acordo permitirá a troca entre os países de materiais escritos na mesma Língua e facilitará o aprendizado da Língua no exterior e a sua adoção por organismos internacionais.

A seguir, uma reportagem da Agência Brasil sobre a variedade do vocabulário da Língua Portuguesa, os aspectos locais que a Língua assume em cada país e a importância da promoção do ensino da Língua e das novas regras internacionais de ortografia.  :::

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–– Regionalismos distinguem português brasileiro do africano ––

Da Agência Brasil

:::  Termos e modo de falar dos países de Língua Portuguesa apresentam variações e enriquecem o idioma tornando-o mais diversificado.  :::

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Camba? Kumbu? Kota? Você pode não saber, mas essas são palavras da língua portuguesa faladas em Angola, país da costa sudoeste da África colonizado por portugueses. Esses são termos usados para designar, respectivamente, “amigo”, “dinheiro” e “pessoa mais velha e respeitável”, e são uma pequena amostra de como a Língua Portuguesa tem variações que podem torná-la incompreensível até mesmo para seus falantes.

Há também casos de palavras que existem no português brasileiro e que podem gerar confusão em uma conversa com um angolano. “Geleira”, por exemplo, que no Brasil significa uma grande massa de gelo formada em lugares frios, em Angola, significa “geladeira”.

Angola é apenas um dos oito países –(1)– de Língua Portuguesa espalhados pelo globo. Além do Brasil, de Portugal e de Angola, o português é a Língua nacional de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de Moçambique, São Tomé e Príncipe e do Timor-Leste, localizado no arquipélago indonésio, entre a Ásia e a Oceania.

Cada lugar tem um falar distinto, que torna o português, assim como outras línguas globais, um idioma rico e diversificado. Em alguns países, o português apresenta variações de sotaque e vocabulário, como é o caso das diferenças na forma de se expressar dos falantes do Nordeste, Sul e Sudeste do país [do Brasil].

O escritor e linguista Marcos Bagno, professor do Instituto de Letras da Universidade de Brasília, explica que a Língua Portuguesa foi levada para vários lugares do mundo por meio das conquistas marítimas de Portugal. Aos poucos, essa Língua foi assumindo características próprias em cada comunidade.

“O que ainda nos mantém mais ou menos em contato fácil é a Língua escrita formal, que é mais conservadora e tenta neutralizar as diferenças entre os modos de falar característicos de cada país”, destacou. “Faço parte de um grupo cada vez maior de pesquisadores que afirmam que, sim, o português brasileiro é uma Língua diferente do português europeu, depois de mais de 500 anos de divergência.”

–– Acordo Ortográfico e expansão da Língua no mundo ––
Recentemente, houve um movimento da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) para aproximar a escrita desses países. O resultado foi a assinatura de um Acordo internacional para a implantação de uma ortografia unificada –(2)–. Todos os oito países assinaram e sete deles já ratificaram o documento. Apenas em Angola, o Acordo encontra barreiras políticas.

Segundo o professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Gilvan Müller de Oliveira, que foi diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) da CPLP por quatro anos (entre 2010 e 2014), o Acordo Ortográfico, o aumento do fluxo de pessoas entre esses países e a expansão do sistema educacional dos países da África e do Timor-Leste deverão ajudar no crescimento do número de falantes.

“Nesses países, uma parte muito grande da população não é falante do português. Eles falam outras línguas. Em Moçambique hoje, 50% da população não falam português. O português passa por um período de crescimento importante, porque finalmente esses países terminaram suas guerras civis, o sistema de ensino foi reestruturado e também os meios de comunicação. Pela previsão das Nações Unidas, todos os cidadãos falarão português nesses países a partir de 2050”, disse Müller.  :::

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–– Notas: ––
–(1)–  Atualmente, são nove os países que tem como Língua oficial o português: em 2011, a Guiné Equatorial adotou o português como uma das Línguas oficiais ao lado do espanhol e do francês.

–(2)–  Trata-se do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que foi elaborado em Lisboa em 16 de dezembro de 1990 e que unifica as regras de escrita da Língua em todo o mundo.

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–– Extraído da Agência Brasil ––

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“Língua e liberdade”: uma jornada de partilha e de reflexão sobre o Português cabo-verdiano

In Defesa da Língua Portuguesa,Lusofonia e Diversidade on 12 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , , , ,

Da RTC (Cabo Verde) e do IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa
4 de dezembro de 2014

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O tema Língua e Liberdade nomeou a primeira Jornada de Partilha e Reflexão da Língua Portuguesa ocorrida no dia 3 de dezembro de 2014 na cidade da Praia, capital de Cabo Verde.

A reunião foi promovida pelo recém-criado Instituto de Línguas e Protocolos Executivos (ILPE), com o apoio da Casa Verbo e Edições, e teve como meta identificar os desvios que afetam os níveis académicos e profissionais quanto à expressão da Língua falada e escrita no país.

Professores de diferentes níveis de ensino, académicos, estudantes e autoridades da área de educação e cultura, jornalistas, e profissionais de outros sectores reuniram-se para debater o estado da Língua Portuguesa de Cabo Verde.

“Nós pretendemos fazer uma reflexão para além da sala de aula, para além dos nossos organismos institucionais”, disse Augusta Évora Teixeira, coordenadora da Casa Verbo, em entrevista à TVC, a televisão pública de Cabo Verde.

“Somos professores de formação. Então, o objetivo é partilhar, refletir sobre as preocupações que nós temos enquanto falantes e enquanto profissionais da Língua para ver se conseguimos dialogar, porque, como acabou de acontecer aqui, as propostas do Ensino Primário são diferentes das do Ensino Secundário e as propostas do Ensino Superior são diferentes das outras, mas há um ponto em comum em que há uma falta nos três níveis.”

Os promotores da jornada contaram com um debate entre os participantes, de modo a obter propostas de melhoria em todas as vertentes do ensino, como um investimento para uma maior destreza linguística dos cabo-verdianos a médio e longo prazos.

–– “Há falta de oportunidade de praticar a Língua oral” ––
A especialista apontou ainda riscos para a Língua Portuguesa no país, sobretudo quanto à falta de separação de usos linguísticos entre o português e as formas do crioulo cabo-verdiano.

“As maiores preocupações que são idênticas, que são iguais nos três níveis de ensino, são a falta de leitura e a falta de oportunidade de praticar a Língua oral”, explicou Augusta Teixeira. “A questão dos programas que, principalmente no Ensino Superior, há um programa defasado, há uma ausência de manual didático. E em relação aos meios intelectuais, aos políticos e aos jornalistas –que é a área que eu pesquisei–, também tem dificuldades, como todos os cabo-verdianos têm, mas principalmente na questão que denuncia a falta de prática da Língua oral.”

–– Português como Língua Segunda nas escolas e Plano Nacional de Leitura ––
Durante a jornada, o ILPE apresentou um diagnóstico sobre a Língua a recomendar que se deve ensinar mais cedo o português, que os pais devem assumir a Língua Portuguesa em uma vertente lúdica e que deve ser criado um Plano Nacional de Leitura em Cabo Verde. Tal plano nacional estaria a cargo do Ministério da Educação e da Cultura.

“O estudo mostra claramente que a leitura está em relação a qualquer outras da habilidades, a mais prejudicada. Há uma falta de leitura, mesmo em universitários. Isso –como nós não temos o português no dia a dia em outros ambientes a não ser escolares e oficiais– acaba por prejudicar realmente a competência linguística dos falantes, em relação à fala. Quando não há leitura e há pouca prática da oralidade, há uma deficiência grave. E a escrita, mesmo a parte gráfica, está a ser invadida pela escrita dos chats [o bate-papo da Internet]”, referiu Augusta Teixeira.

Quanto à Língua nas escolas, o ILPE recomendou aos professores uma abordagem mais comunicativa e mais aberta, a priorizar o ensino de Português como Língua Segunda.

A Jornada foi composta por três grandes painéis: “Diagnóstico, Desafios e Perspectivas de Ensino”, “Leitura: uma Sementeira em Terra Boa” e “Património e Memória”, além de outros temas complementares que foram debatidos como “Ensinar as primeiras letras em Cabo Verde” e “A docência da Língua Portuguesa no Ensino Secundário: experiência e desafios”.  :::

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–– Extraído da RTC (Cabo Verde) e do IILP – Instituto Internacional da Língua Portuguesa ––

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Embaixador de Portugal na China elogia Macau como “ponto de encontro” entre os dois países

In Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 11 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , ,

Da Rádio China Internacional
10 de dezembro de 2014

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Este ano marca o 15º aniversário do retorno da administração de Macau para a China. Em entrevista à Rádio Internacional da China, o embaixador de Portugal em Pequim, Jorge Torres Pereira, avaliou que a região tem um papel muito importante no relacionamento entre os dois países, e serve como um “ponto de encontro” para a China, Portugal e todos os países de Língua Portuguesa.

“Eu creio que o mais importante dizer, agora que consumamos quinze anos desta transferência da soberania à Republica Popular da China, é que Macau constitui ativo muito importante do relacionamento bilateral entre Portugal e a China.

Continuamos – quer o governo português, quer o governo da República Popular da China – a considerar que é um aspecto importante e simbólico da excelência do relacionamento entre os dois países o facto como Macau tem influenciado positivamente a atitude dos dois governos.”

Macau foi um dos primeiros locais de encontro entre China e Portugal, e essa importância permanece até hoje. O embaixador Jorge Torres Pereira disse acreditar que a cidade tem um potencial ainda maior no relacionamento bilateral.

“Portugal foi dos países que mais cedo teve contactos com a China. Nós gostamos de dizer que ‘por mar fomos os primeiros a chegar’. E pouco depois Macau foi, no fundo, um ponto de encontro entre a cultura chinesa e a realidade da China e a realidade portuguesa.

E esse papel de ponto de encontro, no fundo, nunca se perdeu. Foi adquirindo, ao longo da história, diferentes aspectos e, na história mais recente –depois do estabelecimento das relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China, depois da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa–, o que nós temos visto nestes últimos quinze anos, é que cada vez mais há resultados concretos deste bom relacionamento, e há cada vez mais potencial de explorar e há cada vez mais áreas de cooperação que passam por Macau.”

Macau é palco do Fórum de Cooperação entre China e países lusófonos. Pereira também vê com bons olhos o evento na promoção dos intercâmbios e cooperações bilaterais e multilaterais.

“De certa maneira, balizam o que este Fórum poderá fazer nestes próximos anos e confirmam aquilo que eu venho de dizer, que há uma perspectiva otimista em relação à cooperação entre China e os diferentes países em que se fala português, em setores que, aliás, tem vindo a ser olhados desde o começo do formato.

É evidente que cada um dos países de Língua Portuguesa tem relações bilaterais com a China muito importantes, e nós não temos a pretensão de dizer que o fórum multilateral –que é o Fórum de Macau– substitui as relações bilaterais de cada um desses países. Agora, o que nós achamos é que é um espaço complementar muito importante, onde se podem descobrir sinergias, onde podem-se descobrir oportunidades que vão para além do relacionamento bilateral.”  :::

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–– Extraído da Rádio China Internacional ––

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Ensino de Português em Macau é “tradicional e silenciador”, diz académico

In Defesa da Língua Portuguesa,Lusofonia e Diversidade,O Mundo de Língua Portuguesa on 10 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , , ,

Do jornal Ponto Final (Macau, China)
8 de dezembro de 2014

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Roberval Teixeira e Silva, professor de português na Universidade de Macau, investigou o comportamento dos alunos chineses na sala de aula.

O Ensino do Português em Macau recebeu ontem nota negativa do académico brasileiro Roberval Teixeira e Silva, docente da Universidade de Macau, que criticou a metodologia vigente por ser “extremamente tradicional e silenciadora”.

“O sistema de ensino, em termos de conteúdo, é muito pobre e é muito tradicional, o que impede que os alunos desenvolvam uma série de habilidades e competências como a de analisar e criticar”, disse, à margem do IV Congresso da Associação Internacional de Linguística do Português (AILP), que este ano se reúne em Macau.

O professor, que antes de vir para o território trabalhou no Brasil sobre as questões do ensino do Português como Língua Estrangeira, destacou um “problema de metodologia e de postura em relação a novas possibilidades”.

Entre 2006 e 2011, Roberval Teixeira e Silva observou e registou aulas de português em praticamente todas as escolas da cidade [de Macau] e entrevistou professores, alunos e funcionários, identificando esta “resistência muito forte à mudança”.

“As pessoas estão muito presas a modelos tradicionais de ensino que se focam na gramática, no vocabulário e na tradução. Não saindo dessa tríade – claramente criticada e ineficaz –, o trabalho não vai funcionar. Não adianta se o aluno está exposto à Língua Portuguesa por uma hora ou por cinco horas por semana. A postura é extremamente tradicional e silenciadora”, criticou.

Esta abordagem das escolas encontra eco em uma predisposição dos alunos chineses para o silêncio, um factor que frequentemente causa estranheza entre os professores estrangeiros habituados a audiências participativas.

O “enorme silêncio” das turmas que encontrou na universidade acabou por motivar o docente a iniciar uma investigação sobre o tema em 2007. Além de tentar perceber junto dos seus próprios alunos o que os inibia, o académico passou um ano a acompanhar as aulas de português de crianças do 1º ano, com uma professora cuja língua materna era o cantonês.

Roberval Teixeira e Silva concluiu que o “silêncio chinês” é algo cultivado desde a infância, “projetado pelos professores, pelos pais, pelos colegas”, já que “toda a gente assume que, para se ser bom aluno, é preciso ser assim”.

“Fui percebendo que, se o aluno não for solicitado diretamente para falar [e se o fizer], é interpretado como sendo uma pessoa que quer aparecer, que não respeita os colegas e até o professor”, explicou.

Esta é uma diferença substancial em relação ao ensino ocidental, onde se espera e valoriza uma postura oposta. “Na minha cultura de sala de aula, o silêncio mostra desconexão e desinteresse, porque estamos acostumamos a construir alunos que precisam de superar o professor, colocar as suas perspectivas”, lembrou.

No entanto, “o aluno chinês tem a ideia de que precisa de imitar o mestre. É uma forma de respeito e de atingir um patamar adequado e ideal para os seus objetivos”, esclareceu.

Segundo o professor, a situação pode ser contornada através de estratégias na sala de aula, de modo a atribuir “papéis específicos” a cada aluno em um contexto de debate.

O académico considerou, no entanto, que não é preciso uma preparação especial para ensinar alunos chineses. “Se um professor estiver preparado para a diferença, não precisa de se preparar para o silêncio”, concluiu.  :::

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Ensino do português em Macau é “extremamente tradicional e silenciador”.
Extraído do jornal Ponto Final (Macau, China)
Publicado em: 08 dez. 2014.

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Jorge Sampaio: CPLP “podia aproveitar melhor” vantagem de ter uma Língua comum

In Língua Portuguesa Internacional,Lusofonia e Diversidade on 8 de Dezembro de 2014 por ronsoar Tagged: , , , , ,

Da Agência Lusa
4 de dezembro de 2014

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O antigo Presidente da República Portuguesa, Jorge Sampaio, esteve presente na sessão de abertura da Conferência da Aliança Progressista, que decorreu em Lisboa nos dias 4 e 5 de dezembro de 2014.

Jorge Sampaio considerou que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) “podia aproveitar melhor” o fato de ter uma Língua comum, defendendo mais políticas concertadas de cooperação para o desenvolvimento.

“Na CPLP, podemos aproveitar melhor o fato de termos uma Língua comum, com a revitalização destes fóruns em torno de uma agenda forte com prioridades comuns, da Língua aos oceanos, da cooperação à investigação, e isso podia ser portador de mudanças reais na vida de milhares ou milhões de pessoas”, disse o ex-presidente da República Portuguesa entre 1996 e 2006.

Para o antigo chefe de Estado português, a complementaridade de recursos, de instrumentos e de capacidades que existe no espaço da CPLP e de outros organismos similares obriga a “políticas concertadas de cooperação para o desenvolvimento movidas pela luta contra as desigualdades e que garantam que os jovens consigam ter acesso a mais oportunidades”, sendo crucial o desenvolvimento de “um novo paradigma da cooperação”.

Em sua intervenção, Jorge Sampaio passou em revista algumas das suas reflexões sobre o desenvolvimento e os grandes problemas que o mundo enfrenta, sublinhando a importância da “cooperação regional, onde há tanto por fazer”, e da apreensão que sente com a falta de solidariedade não só entre as gerações, mas também entre os mais ricos e os mais pobres.

A este propósito, salientou que os 85 multimilionários apontados pela organização internacional de ação social Oxfam detêm o mesmo valor que os 50% mais pobres da população mundial, o que significa – disse ele – que “85 pessoas têm os mesmos recursos que os 3,5 mil milhões de pessoas”.  :::

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–– Extraído da Agência Lusa ––