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O português do Brasil e a “mania de macaquear” com estrangeirismos

In Defesa da Língua Portuguesa on 31 de Março de 2013 by ronsoar Tagged: , , , ,

A entrada em massa de termos ingleses no português constitui risco de empobrecimento do vocabulário da Língua em seus usos técnicos.

Um fenômeno que sempre esteve presente na Língua Portuguesa no Brasil (e em outras grandes línguas), mas que se tornou mais visível nas últimas três décadas: a invasão de vocábulos, sobretudo do inglês, na comunicação de determinadas áreas do conhecimento.

Sempre houve entrada de termos de outras línguas, mas hoje a Língua Portuguesa não consegue assimilar e adaptar os termos estrangeiros na mesma intensidade em que entram. E muitos desses termos são desnecessários, já encontram equivalentes no português – o que revela um certo sintoma de sujeição cultural exagerada diante de outra língua de porte mundial sem parentesco com a Língua Portuguesa.

Em vista disso, órgãos públicos de estudo e gerenciamento das línguas foram criados para pesquisar, compilar e divulgar os termos equivalentes para uso nas áreas técnicas e na língua comum. Só depois vieram as leis de uso desses termos prioritariamente nos órgãos e entidades da administração pública. Isto iniciou-se há quase meio século na língua francesa. E já há órgãos similares de ação para a língua espanhola e para outras, mesmo com menos projeção mundial, como o catalão, o norueguês e o holandês.

Tais trabalhos de promoção lexical permitiram a revitalização dessas línguas, tornando-as modernas, úteis e criativas, capazes de expressar hoje qualquer ramo do conhecimento humano. E no momento em que se redescobre a vocação internacional da Língua Portuguesa, cresce a preocupação com o conjunto de palavras da Língua em seus usos técnicos e específicos, diante do real risco de descaracterização e empobrecimento do vocabulário português.

Abaixo, um artigo de opinião do jornalista Gilson Barreto, publicado no Diário do Nordeste, de Fortaleza, que expressa a preocupação de quem no Brasil trabalha com a Língua “filha ilustre do Latim” diante da entrada escancarada de palavras – muitas delas supérfluas – vindas da Língua inglesa. E tal preocupação já mostra a necessidade de capacitar a Língua Portuguesa de instrumentos que a tornem também uma Língua apta e útil para expressar qualquer área técnica da atualidade.

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–– Mania de macaquear ––

Gilson Barbosa
do jornal Diário do Nordeste (Fortaleza, Brasil)
24 de março de 2013

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Não é novidade o fato de que há tempos as palavras e expressões em língua estrangeira – notadamente inglesa – invadiram o cotidiano dos brasileiros. Essa subserviência linguística está aí, presente nas denominações de sofisticados edifícios, de lojas reluzentes e até mesmo nas relações comerciais entre os cidadãos.

A Língua Portuguesa – “a última flor do Lácio, inculta e bela”, como diria Olavo Bilac (1865-1918) – diariamente é aviltada por invenções que, por absoluta ignorância ou falta de criatividade, acabam por atingir o idioma nacional, abalando suas estruturas e tornando-o estranho aos próprios brasileiros que deveriam exercitá-lo com orgulho, dada a riqueza de seu conteúdo.

Não foi por outra razão que o deputado federal Aldo Rebelo [do Partido Comunista do Brasil, por São Paulo], alagoano de nascimento, apresentou projeto na Câmara [dos Deputados], buscando reduzir a influência dos estrangeirismos no país. Por causa disso, o hoje ministro dos Esportes foi até ridicularizado por setores da imprensa, onde o colonialismo cultural encontra portas mais do que escancaradas. A mania de macaquear expressões e palavras alienígenas, totalmente avessas à Língua nacional, encontra exemplos no dia a dia de todos nós.

O intervalo para o café, nas reuniões, virou coffee-break. A entrega em domicílio, delivery. Um estabelecimento comercial não oferece mais 10% de desconto e, sim, 10% off. Há prédios, em Fortaleza, com nomes como The Place ou Green Tower, ou coisa que os valha. E a mais recente mudança imposta nos nossos limites geográficos é a mudança na denominação dos estádios de futebol, cujos nomes agora, por influência da FIFA, procuram copiar as arenas, stadiums e coliseums, como assim são chamados esses locais nos EUA.

Aqui sempre tivemos estádios, e nunca arenas, palavra que remete aos sangrentos sacrifícios humanos praticados na antiga Roma. Até mesmo a imprensa vem se rendendo à tal Arena Castelão, que, mesmo repaginada para a Copa, continuará sendo, para mim e tantos outros, o Estádio Castelão. Respeitemos o português tão rico de palavras! Valorizemos nosso idioma, procurando praticá-lo corretamente! Defendamos a Língua Portuguesa!  :::

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BARBOSA, Gilson. Mania de macaquear.
Extraído do jornal Diário do Nordeste (seção Debates e Ideias) – Fortaleza, Brasil.
Publicado em: 24 mar. de 2013.

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Leia também:
Sobre manifes e o tratamento de estrangeirismos – 24 de janeiro de 2013
Estrangeirismos de estrangeirismos – Arnaldo Niskier – 30 de setembro de 2012
Preparando o Português para ser a “Língua da ciência” – 23 de setembro de 2012

Uma resposta to “O português do Brasil e a “mania de macaquear” com estrangeirismos”

  1. O fenómeno é tão comum no Brasil quanto em Portugal. Aqui ainda é pior, porque até já se passa por cima da Língua e se escreve e publica “ciência” em Inglês.

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