Resultados de Pesquisa

Articles

Espanha: a resistência do português de Olivença

In Defesa da Língua Portuguesa, Língua Portuguesa Internacional, Lusofonia e Diversidade on 7 de Junho de 2014 by ronsoar Tagged: , , , , ,

Das agências EFE e Europa Press
27 de maio de 2014

A cidade de Olivença em prol de um trabalho pela proteção e promoção da Língua Portuguesa falada pela população local: para salvaguardar um património imaterial. 

A cidade de Olivença em prol de um trabalho pela proteção e promoção da Língua Portuguesa falada pela população local: para salvaguardar um património imaterial.
 

.
Um estudo patrocinado pela Câmara Municipal de Olivença, em colaboração com a Associação Cultural Além Guadiana, analisa as características da Língua Portuguesa falada por cerca de mil pessoas nessa cidade da província de Badajoz, na Estremadura espanhola.

O trabalho denominado Estudo Compilatório do Português Oliventino, com o objetivo de contribuir para “salvaguardar o Português em Olivença”, foi apresentado no dia 30 de maio, no Museu Etnográfico Francisco González Santana.

A publicação contou com a colaboração da Universidade da Estremadura e com o financiamento da Iniciativa Comunitária POCTEP (Programa de Cooperação Trasnfronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013) no âmbito do projeto Circuito Turístico por Tierras Rayanas (Circuito Turístico por Terras Raianas).

Em especial, este projeto consistiu em um dossiê sobre as características da Língua Portuguesa de Olivença, um dicionário da Língua com as palavras peculiares oliventinas, e em uma compilação que reúne gravações sonoras de cerca de 50 pessoas lusofalantes nativas de Olivença e de suas aldeias, dentre as quais, São Bento da Contenda e São Jorge da Lor.

O objetivo do projeto, segundo comunicado da Associação Além Guadiana, é “criar a base de um banco de dados sonoro que permita constituir uma preciosa fonte no futuro para estudos linguísticos, mas também sociológicos, históricos ou etnográficos, com fins didáticos ou culturais, entre outros”.

Olivença pertenceu por cinco séculos a Portugal, mas passou administrativamente para a Espanha através do Tratado de Badajoz em 1801 (a partir daí passando a chamar-se Olivenza). Contudo, a Língua Portuguesa continuou a ser falada pela maioria dos habitantes e manteve-se como uma herança patrimonial lusa na cidade.

Além de Olivença e aldeias próximas, há alguns outros núcleos lusófonos da Estremadura espanhola – como Cedillo e A Codosera –, embora nesses casos a Língua permaneça mais pela proximidade geográfica com a fronteira portuguesa, sem que estas regiões tivessem antes pertencido ao então Reino de Portugal.

A partir de 1986, com a integração de Espanha e Portugal à União Europeia, cidades da parte portuguesa e espanhola da Estremadura, incluindo Olivença, decidiram pela criação de uma “eurorregião” de livre trânsito e cooperação mútua.

O projeto apresentou a público os registos da compilação do português de Olivença: uma Língua "em risco de desaparecer". 

O projeto apresentou a público os registos da compilação do português de Olivença: uma Língua “em risco de desaparecer”.
 

–– Um património da identidade oliventina em risco de desaparecer ––
No mesmo comunicado à imprensa, a Associação Cultural Além Guadiana explica que o português de Olivença é “uma variedade dialetal, fruto da história partilhada de Olivença”, acrescentando que, na metade do século XX, a “Língua de Camões” era usada pela maioria da população na localidade, mas agora, com seu uso restrito à população mais idosa, encontra-se ali “em risco de desaparecer”.

O presidente da Associação Além Guadiana, Joaquín Fuentes Becerra, destacou a permanência do português em Olivença e lamentou a “ruptura de gerações”, em que os pais deixaram de falar com seus filhos em português e começaram a falar em castelhano, o que tornou “muito difícil” a manutenção da “Língua de Camões”.

Na mesma linha, o comunicado destaca que sucessivos relatórios do Conselho da Europa recomendaram às instituições medidas para a sua proteção e promoção, bem como que a partir da iniciativa da população e da Câmara Municipal, “crescentemente sensibilizadas”, surgiram diversas iniciativas, tais como a sinalização turística bilíngue ou a recuperação dos antigos nomes de suas ruas em português.

Outra importante iniciativa foi o Ensino de Português nas escolas oliventinas, com o auxílio da Universidade Popular, com a meta de revitalizar a Língua na cidade.

O comunicado da associação também salienta que há “vigorosa demanda” para o Ensino de Português em Olivença, onde “o Português é considerado um dos tesoiros da sua cultura imaterial, que não só faz parte da sua identidade, mas que, pela sua vez, constitui uma ferramenta de promoção cultural e económica”.  :::

Acesse aqui o blogue da Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa em Olivença – Olivença, Espanha.

.
–– Extraído das agências EFE e Europa Press ––

.
*              *              *

Leia também:
Espanha: perspectiva da Língua Portuguesa em Olivença – 10 de abril de 2013
Espanha: pela preservação do Português em Olivença – 26 de julho de 2012

Articles

Espanha: perspectiva da Língua Portuguesa em Olivença

In Defesa da Língua Portuguesa, Língua Portuguesa Internacional, Lusofonia e Diversidade on 10 de Abril de 2013 by ronsoar Tagged: , , , ,

Da Agência EFE e da Associação Cultural Além Guadiana (Olivença, Espanha)

A jornada realizada pela Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa destacou a presença da Língua Portuguesa como pilar da identidade bicultural da cidade de Olivença.
 

A Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa organizou no sábado, dia 6, na Casa da Cultura de Olivença, a jornada Perspectiva da Língua Portuguesa em Olivença e na Extremadura, sobre a situação e as perspectivas da Língua Portuguesa, no município de Olivença e na região espanhola da Extremadura.

A atividade apoiada pela Câmara Municipal de Olivença, prestou especial atenção à situação da “Língua de Camões” na cidade fronteiriça, onde a existência da Língua Portuguesa em seus aspectos etnográficos, monumentais ou linguísticos é um pilar da identidade bicultural. E para a região da Extremadura, a Língua Portuguesa é “estratégica” por razões comerciais, de geografia e de turismo, entre outros, conforme relatado em nota pela Associação Cultural Além Guadiana.

Cartaz da jornada Perspectiva da Língua Portuguesa em Olivença e na Extremadura, realizada em 6 de abril.

Representantes da comunidade educacional e de várias instituições de Portugal e Espanha estiveram presentes neste evento, como a diretora-geral do Conselho dos Professores de Educação e Cultura, María de los Ángeles Moreno Rivero; o diretor do Instituto de Direitos Humanos da Universidade de Deusto (localizada em Bilbao, no País Basco) e consultor externo do Conselho da Europa, Eduardo Ruiz Vieytez, e o presidente da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República Portuguesa, José Ribeiro e Castro.

A jornada teve dois painéis de discussão, um focado sobre as instituições de ensino, tanto primárias quanto secundárias – “A Perspectiva dos Centros Educativos” –, e o outro sobre “A Visão Doutras Entidades Educativas e Culturais”, tais como a Universidade da Extremadura.

O evento encerrou-se com a exposição de livros “Traz-Traz”. Um dia antes, no dia 5, ocorreu na Casa da Misericórdia de Olivença a apresentação do livro do escritor natural de Portalegre, Aragonez Marques, Retratos de Pessoas em Procissão.

.
Para os organizadores, o evento baseou-se na realidade de que a Extremadura espanhola é a região com “maior interesse” pela aprendizagem do português; por isso, a atividade foi celebrada em Olivença, uma localidade de “especial simbolismo” com tudo que se relaciona com a cultura lusa.  :::

Acesse aqui o blogue da Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa em Olivença – Olivença, Espanha.

.
–– Extraído da Agência EFE e da Associação Cultural Além Guadiana (Olivença, Espanha) ––

*              *              *

Leia também:
Espanha: pela preservação do Português em Olivença – 26 de julho de 2012

Articles

Espanha: pela preservação do Português em Olivença

In Defesa da Língua Portuguesa, O Mundo de Língua Portuguesa on 26 de Julho de 2012 by ronsoar Tagged: , , ,

.
:::  A Associação Além Guadiana elaborará um banco de dados sonoro com registos dos habitantes que falam a Língua Portuguesa.  :::

Laura González Andrade, de Olivença (Espanha)
Do jornal Hoy (Badajoz, Espanha)
23 de julho de 2012

Feira de Antiguidades diante da igreja de Santa Maria do Castelo: iniciativas para preservar a Língua Portuguesa na cidade de fronteira entre Espanha e Portugal.
 

“Olivença é um tesouro. Não há um só lugar na Península Ibérica que tenha a história e as particularidades da localidade, que conta com um passado comum que é necessário projetar para o futuro”, diz Joaquín Fuentes Becerra, presidente da Associação Cultural Além Guadiana.

O português é uma das línguas próprias da cidade, que até hoje é falada pelos mais idosos e que foi usada ininterruptamente desde a Idade Média. No entanto, esta língua materna – e a memória de muitos oliventinos – tem uma data de expiração. Atualmente, os lusofalantes têm mais de 60 anos.

Portanto, para que Olivença – no que lhe faz esta dualidade cultural como única – converta-se em ponta de lança para liderar as políticas de promoção da Língua Portuguesa, e para que esse património intangível perdure ao longo do tempo, foi assinada na Associação Além Guadiana uma convenção-quadro de colaboração com a Universidade da Estremadura e com a Câmara Municipal de Olivença.

Pretende-se, com isso, que as gerações futuras tenham acesso ao português oliventino no futuro, ao mesmo tempo em que se incrementa o valor cultural e patrimonial da cidade.

Entre as ações a efetuar, destaca-se a elaboração de um banco de dados sonoro que permita a recolha da fala do português. O objetivo é que ela possa ser salvaguardada, a fim de evitar o seu desaparecimento junto com as pessoas que ainda hoje a praticam.

Banco de dados do português oliventino

Dois membros da Associação ao lado de
um morador de Olivença que fala
a Língua Portuguesa. (Foto:
Hoy)
 

A partir da Associação, considera-se necessário que as pessoas adquiram consciência do valor da Língua Portuguesa na cidade; por isso, é “urgente e necessária” a sua recuperação.

Para isso, será elaborado um banco de dados sonoro criado a partir dos relatos dos últimos lusofalantes, geralmente pessoas com mais de 65 anos, do sexo feminino e que mantenham a melhor conservação de sua dentição, para que possam contribuir com suas experiências, provérbios, canções ou orações.

A Associação Além Guadiana pede aos vizinhos de Olivença e de suas aldeias, bem como àqueles que viveram na cidade e por algum motivo tiveram de sair dela, para que abram suas portas para oferecer relatos de velhas experiências e questões sociológicas desde o início do século, para ajudar a formar uma história recente da cidade. A pesquisa começará em agosto.

Numa fase posterior, será realizado um estudo linguístico com transcrições fonéticas com a finalidade de obter os traços distintivos do português oliventino, tendo-se em conta a influência da “castelhanização”, e a partir daí, a associação prevê editar uma publicação que irá coletar os registos, para facilitar seu acesso à população.

O trabalho será realizado por Eduardo Naharro, um membro da Associação Além Guadiana. A assinatura desta convenção-quadro está no âmbito do projeto Circuito Turístico por Tierras Rayanas (Circuito Turístico por Terras de Fronteira), enquadrado na Iniciativa Comunitária POCTEP [Programa de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal] e cofinanciado por fundos FEDER [Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional], que tem uma ajuda de 6.600 euros para cobrir os custos de material e de publicações.

.
ANDRADE, Laura Gómez. El portugués oliventino en conserva.
Do jornal Hoy, seção Más Actualidad – Badajoz, Espanha.
Publicado em: 23 jul. 2012.

*            *            *

Assinatura da convenção-quadro pelo português oliventino na sede
da Associação Além Guadiana em Olivença, em 16 de julho.

 

Olivença e a Língua Portuguesa
Com cerca de 12 mil habitantes, Olivença é cidade que é até hoje motivo de litígio entre Portugal e Espanha, localizada na comunidade autónoma espanhola da Estremadura. Fundada em meados do século XIII, ficou sob administração do então Reino de Portugal entre 1297 e 1801, quando foi anexada à Espanha pelo Tratado de Badajoz. O Congresso de Viena de 1815 determinou a devolução de Olivença a Portugal, mas até hoje isso não aconteceu.

Apesar das questões envolvendo o litígio de fronteira entre os dois grandes países ibéricos, o facto é que não chegaram a abalar as relações entre Portugal e Espanha. Tanto que, com a integração à União Europeia, cidades da parte portuguesa e espanhola da Estremadura, incluindo Olivença, decidiram pela criação de uma “eurorregião” de livre trânsito e cooperação mútua.

Outra iniciativa: a preservação dos antigos nomes portugueses das ruas, junto aos atuais nomes
em espanhol.

Até à década de 1940, Olivença era de maioria de população lusófona. No entanto, por pressões políticas do então Estado Espanhol, a geração nascida nessa época começou a ensinar os seus filhos, nascidos depois de 1950 ou 1960, segundo os casos, a falar o espanhol.

O português oliventino era amplamente falado nos concelhos de Olivença e de Táliga, ambos hoje parte da Espanha. Nas aldeias, onde até o final do século XIX, por estudos à época feitos pelo filólogo e linguista Leite de Vasconcelos, era utilizado unicamente o português para a comunicação do dia a dia, também já houve forte adoção do bilinguismo na década de 1960.

.
Hoje, o português oliventino somente é falado entre a população mais idosa. Nas palavras da investigadora Maria de Fátima Matias, da Universidade de Aveiro, em Olivença o português está “linguística e socialmente desprestigiado”, identificado com “a ruralidade e o analfabetismo, como se fosse o eco do passado”, considerado uma “forma corrupta de falar, uma linguagem desajeitada”.

O último relatório do comité de peritos do Conselho da Europa faz um balanço negativo da aplicação da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias em Olivença, defendendo uma maior proteção e promoção do português e recomendando que os oliventinos tenham mais acesso à aprendizagem da Língua. Atualmente, o português é ensinado, como opção, nas escolas públicas e privadas do município, leccionado por professores portugueses.

Daí a importância da iniciativa da Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa, fundada em 2008 por cidadãos oliventinos preocupados com a promoção e difusão da Língua Portuguesa de Olivença e com a integração cultural da região à Lusofonia. Mais que a meta de garantir o legado ibérico da “Cidade das Duas Culturas”, existe a meta de manter vivos o património e a memória portuguesa de Olivença.

• Acesse aqui o blogue da Associação Além Guadiana de Cultura Portuguesa em Olivença – Olivença, Espanha.

.
(Postado por Ronaldo Santos Soares.)