Das agências EFE e Europa Press
27 de maio de 2014

A cidade de Olivença em prol de um trabalho pela proteção e promoção da Língua Portuguesa falada pela população local: para salvaguardar um património imaterial.
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Um estudo patrocinado pela Câmara Municipal de Olivença, em colaboração com a Associação Cultural Além Guadiana, analisa as características da Língua Portuguesa falada por cerca de mil pessoas nessa cidade da província de Badajoz, na Estremadura espanhola.
O trabalho denominado Estudo Compilatório do Português Oliventino, com o objetivo de contribuir para “salvaguardar o Português em Olivença”, foi apresentado no dia 30 de maio, no Museu Etnográfico Francisco González Santana.
A publicação contou com a colaboração da Universidade da Estremadura e com o financiamento da Iniciativa Comunitária POCTEP (Programa de Cooperação Trasnfronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013) no âmbito do projeto Circuito Turístico por Tierras Rayanas (Circuito Turístico por Terras Raianas).
Em especial, este projeto consistiu em um dossiê sobre as características da Língua Portuguesa de Olivença, um dicionário da Língua com as palavras peculiares oliventinas, e em uma compilação que reúne gravações sonoras de cerca de 50 pessoas lusofalantes nativas de Olivença e de suas aldeias, dentre as quais, São Bento da Contenda e São Jorge da Lor.
O objetivo do projeto, segundo comunicado da Associação Além Guadiana, é “criar a base de um banco de dados sonoro que permita constituir uma preciosa fonte no futuro para estudos linguísticos, mas também sociológicos, históricos ou etnográficos, com fins didáticos ou culturais, entre outros”.
Olivença pertenceu por cinco séculos a Portugal, mas passou administrativamente para a Espanha através do Tratado de Badajoz em 1801 (a partir daí passando a chamar-se Olivenza). Contudo, a Língua Portuguesa continuou a ser falada pela maioria dos habitantes e manteve-se como uma herança patrimonial lusa na cidade.
Além de Olivença e aldeias próximas, há alguns outros núcleos lusófonos da Estremadura espanhola – como Cedillo e A Codosera –, embora nesses casos a Língua permaneça mais pela proximidade geográfica com a fronteira portuguesa, sem que estas regiões tivessem antes pertencido ao então Reino de Portugal.
A partir de 1986, com a integração de Espanha e Portugal à União Europeia, cidades da parte portuguesa e espanhola da Estremadura, incluindo Olivença, decidiram pela criação de uma “eurorregião” de livre trânsito e cooperação mútua.

O projeto apresentou a público os registos da compilação do português de Olivença: uma Língua “em risco de desaparecer”.
–– Um património da identidade oliventina em risco de desaparecer ––
No mesmo comunicado à imprensa, a Associação Cultural Além Guadiana explica que o português de Olivença é “uma variedade dialetal, fruto da história partilhada de Olivença”, acrescentando que, na metade do século XX, a “Língua de Camões” era usada pela maioria da população na localidade, mas agora, com seu uso restrito à população mais idosa, encontra-se ali “em risco de desaparecer”.
O presidente da Associação Além Guadiana, Joaquín Fuentes Becerra, destacou a permanência do português em Olivença e lamentou a “ruptura de gerações”, em que os pais deixaram de falar com seus filhos em português e começaram a falar em castelhano, o que tornou “muito difícil” a manutenção da “Língua de Camões”.
Na mesma linha, o comunicado destaca que sucessivos relatórios do Conselho da Europa recomendaram às instituições medidas para a sua proteção e promoção, bem como que a partir da iniciativa da população e da Câmara Municipal, “crescentemente sensibilizadas”, surgiram diversas iniciativas, tais como a sinalização turística bilíngue ou a recuperação dos antigos nomes de suas ruas em português.
Outra importante iniciativa foi o Ensino de Português nas escolas oliventinas, com o auxílio da Universidade Popular, com a meta de revitalizar a Língua na cidade.
O comunicado da associação também salienta que há “vigorosa demanda” para o Ensino de Português em Olivença, onde “o Português é considerado um dos tesoiros da sua cultura imaterial, que não só faz parte da sua identidade, mas que, pela sua vez, constitui uma ferramenta de promoção cultural e económica”. :::
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–– Extraído das agências EFE e Europa Press ––
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Leia também:
• Espanha: perspectiva da Língua Portuguesa em Olivença – 10 de abril de 2013
• Espanha: pela preservação do Português em Olivença – 26 de julho de 2012