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Arlindo Barbeitos: Português de Angola deve estar assente na gramática

In Defesa da Língua Portuguesa, Língua Portuguesa Internacional, Lusofonia e Diversidade on 11 de Março de 2013 by ronsoar Tagged: , , , ,

Segundo o autor, devem ser reconhecidas as estruturas gramaticais do português tal como falado em Angola.

Um dos principais escritores angolanos da atualidade, Arlindo Barbeitos, esteve presente na XXII Feira Internacional do Livro de Cuba, em Havana. O evento literário do país caribenho, realizado entre os dias 14 e 24 de fevereiro, fez de Angola o país homenageado e ajudou na divulgação ali da Língua Portuguesa e da literatura angolana.

Durante a Feira do Livro de Havana, o autor emitiu opinião sobre o ensino da Língua Portuguesa em Angola e a literatura, declarando que o português, da forma como é falado em Angola, não é um “mau português” por divergir em certas características da Língua como falada em Portugal.

“O essencial é respeitar as regras da gramática, porque não há português padrão. É um erro acreditar que o português de Portugal seja padrão”, declarou o escritor, que também é professor universitário.

As afirmações de Arlindo Barbeitos levam novamente à baila a questão sobre um modelo de regras gramaticais para a Língua Portuguesa válidas e aceitas para toda a Lusofonia e que levem em consideração as peculiaridades locais de construção das frases e de colocação de termos. Tal iniciativa seguiria no mesmo sentido do que ocorreu recentemente na elaboração das novas gramáticas da língua francesa e da língua espanhola, de caráter unificador e reconhecedor das nuances locais do uso formal de ambos os idiomas.

O estudo dos paradigmas formais da Língua Portuguesa usada em Angola e nos demais países e regiões da Lusofonia podem servir para a elaboração futura de uma gramática unificada da Língua, mais extensiva, não propriamente de um país, mas internacional e pan-lusófona, de uso e aceitação mundial.

Abaixo, a reportagem da Agência AngolaPress sobre a visão de Arlindo Barbeitos quanto à Língua Portuguesa de Angola e o seu ensino gramatical, bem como o ensino nas escolas das línguas autóctones dos povos angolanos.
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–– Escritor aprova português angolano assente na gramática ––

Da Agência AngolaPress
3 de março de 2013

Para Arlindo Barbeitos, deve-se aceitar “a linguagem coloquial, sem abdicar de escrever corretamente”.

O escritor angolano Arlindo Barbeitos manifestou-se favorável à aceitação do português falado em Angola, desde que assente a sua estrutura morfossintática na gramática convencional.

“Há maneiras de falar muito nossas, que não são necessariamente mau português. O essencial é respeitar as regras da gramática, porque não há português padrão. É um erro acreditar que o português de Portugal seja padrão”, afirmou o também docente.

“O português de Portugal não é padrão e sim uma variante da Língua Portuguesa. Nada mais, porque na Língua Portuguesa, tal como no inglês, não há língua padrão. Há simplesmente regras que nós temos de conhecer”, argumentou.

Disse ter em conta a experiência dos escritores cubanos, que reconhecem haver um espanhol culto que devem escrever nos livros de ciência e em outros destinados aos estudantes, mas têm liberdade de incluir nos romances e em alguns manuais o seu linguajar.

“Essa foi uma das experiencias que alguns de nós escritores tomamos de Cuba. Já o fazíamos, mas as vezes com uma certa aflição, o que levava que muitos autores portugueses a brasileiros considerassem as suas obras menores, em termos de rigor e qualidade”.

“Eles achavam que as nossas obras eram menores e estavam cheias de africanismos, como os textos do Uanhenga Xitu e do Luandino Vieira. Isto é incorreto. Nós temos que saber afirmar, muito claramente, a nossa personalidade de angolanos”,disse.

Arlindo Barbeitos considerou importante saber que existe uma linguagem coloquial, mas alertou que os textos oficiais, nos jornais e outros meios, devem trazer um português correto.

“Que eu diga naturalmente, na linguagem coloquial, –’eu vou na minha casa’–, nada tenho contra isso. Essa é a tradução direta da nossa língua. Mas quando escrevo um texto oficial, então escrevo um português correto, obedecendo às regras gramaticais, como fazem também os brasileiros”, alertou.

“Há gente que vê muitas vezes os pais falarem corretamente o português, mas os filhos falando já o ‘angolês’, como eu digo. É uma realidade histórica que temos de aceitar, a linguagem coloquial, sem abdicar de escrever corretamente”, disse.

Considerou também necessário fomentar as línguas angolanas, para evitar que crianças de tenra idade cresçam sem saber a sua língua materna, em favor do português.

“Isso é incorreto e não pode acontecer. Formar professores para ensinar nas línguas angolanas é extremamente difícil, mas tem que se começar a fazer”, concluiu o escritor.  :::

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–– Extraído da Agência AngolaPress ––

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